Atentado ao património da Ourivesaria Portuguesa
Devido a uma onda crescente de insegurança e associado à cotação do ouro batendo máximos históricos, muitas famílias portuguesas em situação difícil aproveitam este momento para vender os seus objectos de ouro e jóias.
Um pouco por todo os país abrem pequenas lojas e escritórios de comerciantes oportunistas e sem escrúpulos que tentam chamar até si todos aqueles em dificuldades, prometendo a compra dos objectos de ouro a preços elevados.
Estas empresas compram tudo que lhes aparece pela frente, pagando aos clientes (vítimas) o preço definido por uma tabela que está muito aquem do verdadeiro valor das peças.
Compram libras a peso, sem valorizar o seu estado de conservação, raridade ou valor numismático, compram peças de joalharia sem atribuir qualquer valor às pedras preciosas que nelas estão incrustadas, compram objectos manufacturados no séc. XVII ao mesmo preço que uma jóia fabricada de uma forma industrial no século XX, compram tudo sem qualquer rigor ou cuidado na valorização das peças, sendo o destino o cadinho.
Diariamente são fundidos em fornos industriais grandes quantidades de objectos de ourivesaria, desde simples alianças, malhas simples até objectos de rara beleza e manufacturação delicada e precisa . Em poucos minutos aquilo que demorou muitas horas a criar e fabricar e se manteve nas famílias de geração em geração, é destruído pelo calor.
Objectos de valor histórico e arqueológico, peças de colecção, testemunhos de épocas ricas da ourivesaria portuguesa, trabalhos de importantes artesãos e industriais, moedas, símbolos do nosso passado, muitos testemunhos de histórias de famílias e reinados têm o mesmo infeliz destino.
Não estarão estas empresas a atentar contra o património da ourivesaria portuguesa?
Que testemunhos ficarão para o futuro dos belos e delicados trabalhos de filigrana do século XIX da filigrana de Póvoa de Lanhoso ou Gondomar?
Quase nada, somente o que resta em algumas colecções particulares muitos bem guardados nas caixas fortes ou em alguns poucos museus.
Uma situação semelhante a esta, passou-se no início do século XIX, quando as tropas napoleónicas entraram em terras portuguesas e saquearam e destruíram muito do nosso património histórico, também fundiram as pratas civis e religiosas das igrejas, derreteram moedas de ouro e prata, com a fim de financiar a invasão.
São muito poucos os bjectos de ourivesaria desse período que chegaram até aos tempos actuais. Esse é um dos motivos pelo qual essas peças são ou deveriam ser valorizadas, a sua raridade.
Considero esta destruição maciça de objectos de ourivesaria um atentado ao nosso património, é como se destruíssemos os quadros de Vieira da Silva aproveitando as molduras para fazer lenha, ou as esculturas do Cutileiro usando o granito ou a mármore nas soleiras das portas.