Legados cheios de historias
Quem se dedica à peritagem e avaliação de peças de ourivesaria e joalharia muitas vezes é surprendido por peças cheias de historias. É um autentico trabalho de detetive identificar e interpretar as marcas e mensagens deixadas na peça ao longo dos anos.
Estamos perante uma Sálva Bilheteira com pés em prata que depois de identificadas as suas marcas (contrastes) podemos garantir que foi fabricada por ourives do Porto (P-176)*datável entre 1843 e 1861 e com o contraste de prata do Porto do ensaiador Caetano Rodrigues de Araújo (P-45)* usado entre 1853 e 1861.
Esta Sálva Bilheteira com 1.200 grama e 36 cm de diâmetro, está em perfeitas condições e muito bem retratada em todos os seus detalhes e pormenores. assente em quatro pés em forma de garra e orla alteada e recortada com concheados, flores e volutas.
No seu centro está gravada com o escudo de armas que julgamos nós ser do primeiro cônsul francês na cidade do Porto.
Através da interpretação heráldica do escudo podemos crer que este representa os apelidos Browne e Clamouse (respetivamente no I e II partido) e que foi propriedade de uma familia Clamouse-Browne radicada na cidade do Porto.
Os Clamouses são originarios de França, da cidade de Tolosa. Bernardo Clamouse, veio para Portugal no exercicio das funções de cônsul do seu pais na cidade do Porto.
Uma peças de prata que chegou até aos nossos dias em perfeito estado de conservação, uma verdadeira fonte de informação e com toda a certeza um excelente investimento para o seu proprietário.
*Inventário de marcas de Pratas Portuguesas e Brasileiras de Fernando Moitinho de Almeida pela INCM