(Des) Informação!
Comecei a minha atividade profissional de comerciante de ourivesaria e perito avaliador no seio da minha família onde a profissão era encarada com muita responsabilidade e sentido ético.
O meu avô, pai, tios e demais colaboradores sempre mostraram muito interesse em aprender, conhecer muito desta arte e partilhar os conhecimentos com todo o grupo de trabalho, de forma a transmitirem uma postura de saber e confiança aos seus clientes.
Esta postura foi padrão durante muitas décadas no nosso país e em todas as ourivesarias, o comerciante de ourivesaria era um profissional respeitado que deveria mostrar confiança, competência e ética profissional.
Quem não se lembra que nas muitas e nas mais emblemáticas ourivesarias nacionais os seus proprietários e colaboradores eram pessoas conhecedoras da sua arte, muitos deles autênticos artistas no desenho e conceção de joias, na classificação de gemas e na peritagem e avaliação das mais antigas e complexas peças de arte.
Que saudades eu tenho desse tempo, eram muitos os especialistas que falavam de ourivesaria com paixão, competência e onde se "respirava" num ambiente de sabedoria.
Desde muito jovem tive oportunidade de assistir a tertúlias com ourives, joalheiros, antiquários, investidores e colecionadores onde calado e atento muito aprendi.
Com o decorrer dos anos estas personalidades foram desaparecendo e infelizmente não houve a sua renovação, apesar de hoje a informação e o conhecimento estarem mais disponíveis e acessíveis.
Recentemente foi-me solicitado a peritagem de um anel comprado numa prestigiada Ourivesaria do Norte de Portugal, pois existia a dúvida por parte do comprador da qualidade do seu metal. Este quis presentear a sua esposa com um anel de platina com diamantes lapidação brilhante, mas surgindo a dúvida entendeu consultar várias ourivesarias da cidade do Porto para então validar a qualidade do mesmo.
Em minha opinião deveria ter-se deslocado a Contrastaria do Porto e teria evitado toda esta desinformação.
Ficou bastante surpreendido e desiludido pois nos três comerciantes de ourivesaria que visitou, foi-lhe dito o mesmo escrutínio, o anel não era de platina mas sim de ouro branco.
Quando analiso o anel e depois de uma breve e simples visualização com uma lupa pude tranquiliza-lo, pois o punção da casa da moeda aplicado no anel era a "Cabeça de Papagaio p/esq. com a inscrição 950", punção utilizado nos artefactos de platina com a qualidade de 0,950.
Ao receber o meu parecer, ficou mais tranquilo e penso que voltou a recuperar a confiança na ourivesaria onde tinha comprado o anel.
Mesmo assim e para lhe esclarecer todas as duvidas aconselhei-o a solicitar um pedido de informação de marca e metal junto da Contrastaria do Porto.
Infelizmente, permitam-me concluir e que apesar dos muitos cursos de peritos/avaliadores que a Casa da Moeda tem vindo a realizar recentemente, são muito poucos os conhecimentos, a experiência, a cultura e a ética comercial por parte de alguns dos atuais comerciantes de ourivesaria e peritos avaliadores.
Fazem peritagens e emitem opiniões de uma forma fácil, sem qualquer conhecimento e rigor cientifico, falam com muitas certezas do que nada ou pouco sabem pondo em causa a honestidade e competência de colegas de profissão com décadas de experiência e provas dadas de competência, saber e honestidade.
Recomendo mais conhecimento, humildade e vontade de aprender a todos aqueles que se estão a iniciar na profissão de comerciante de ourivesaria e de perito avaliador e também mais moderação nas afirmações e certezas que julgam ter.
Sou também da opinião que os cursos ministrados pela Casa da Moeda de perito avaliador necessitam urgentemente de uma reformulação pois os conhecimentos e módulos lecionados são insuficientes para preparar peritos capazes de desempenharam a sua função com segurança, competência, profissionalismo e ética profissional.
O mercado procura neste sector essencialmente confiança nas empresas, na cultura e no conhecimento das pessoas que nele trabalham.
Para esse efeito devemos diariamente através dos nossos atos, dos nossos conselhos, da nossa postura construir uma imagem de confiança.
Atualmente e felizmente ainda existem muito bons profissionais em que o mercado deposita confiança, consequência de anos de experiência, muito estudo e investigação, preocupação com as alterações constantes do sector e gosto e paixão pela profissão.
Desempenhar a atividade de comerciante de ourivesaria e perito avaliador com competência, requer muito mais que um simples diploma.